Fazer avançar os direitos das pessoas com deficiência com elas, em vez de em seu nome, tem sido a grande aposta do Concelho Local de Inclusão de Cascais (CLIC), uma sub-rede social que junta cerca de 30 organizações que trabalham na área da deficiência. Todas trabalham no concelho de Cascais e algumas levam também a sua missão a Oeiras e a outros concelhos limítrofes.
O que distingue a sua experiência é a forte cultura colaborativa que as une, que permite trabalhar em articulação e sintonia com a visão estratégica da Rede Social para o concelho, alimentando objetivos comuns, evitando duplicar respostas e otimizando recursos.
Hoje a missão do CLIC conta com o apoio de inúmeros parceiros que incluem, entre outros, a autarquia, o IEFP, a Segurança Social ou a associação de empresários local.
A presidente do CLIC, Rosa Neto, recorda como tudo começou em 1986: “As organizações locais ligadas à deficiência começaram a trabalhar umas com as outras, no contexto de diversos grupos de trabalho temáticos e foi assim que se foram organizando em rede. Mas no início foi difícil”. Esta responsável conta que havia então “três áreas principais de preocupação para este público alvo, a educação, as questões da acessibilidade, nomeadamente tudo o que dizia respeito a barreiras arquitetónicas e também já nessa altura a empregabilidade”.
Foi assim que logo em 1989 a CERCICA, uma das organizações do CLIC, começou a promover ações de formação profissional que permitissem preparar as pessoas com deficiência para entrarem no mercado de trabalho. A primeira etapa de sensibilização às empresas começou logo nessa altura pois estas ações, já então, incluíam um estágio final em ambiente de trabalho. Rosa Neto conta que, com o apoio do Município, foi nessa altura “promovido um Seminário para os empresários locais para os sensibilizar para a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho”. A iniciativa correu muito bem e acabou por dar origem ao primeiro enclave de emprego protegido em Cascais promovido por uma Autarquia. Esta medida, apoiada pelo Instituto do Emprego e da Formação profissional previa a criação de vários postos de trabalho quando a atividade profissional desse grupo de trabalhadores fosse exercida em conjunto. A partir daqui a Câmara Municipal foi recebendo cada vez mais pessoas com deficiência e hoje é o principal empregador deste público no concelho.
Foi o início de uma nova cultura de portas abertas em Cascais. Uma das entidades empregadoras que aderiu então à medida, uma cooperativa ligada à educação, ainda hoje conserva nos seus quadros os seis colaboradores que recebeu nessa altura.
No início, talvez porque os empresários não soubessem bem o que os esperava, eram os estágios que tinham maior procura. E já então, as organizações locais davam apoio às colocações, procurando sempre ajustar o perfil de cada candidato à função que iria desempenhar, de forma a conseguir experiências bem-sucedidas para ambas as partes. O apoio pós colocação também foi uma realidade desde o início, assegurando às empresas um apoio de retaguarda, sempre disponível, em caso de desafios maiores ou de imprevistos.
E foi assim “com muita persistência, muito trabalho, muito foco, com uma partilha constante entre as organizações e sempre a aprender” que, ao longo destes 30 anos, num país onde não se pode dizer que exista ainda uma cultura generalizada de emprego inclusivo, as organizações de Cascais conseguiram fazer escola e promover inúmeras boas práticas nesta área.
A nova lei das quotas está a trazer novos desafios a este trabalho e a plataforma JustWork, promovida pelo CLIC com o apoio do BPI/Fundação La Caixa, é mais uma nova ferramenta, que aproveita a tecnologia para agilizar o encontro entre empregadores e candidatos levando este processo a um novo patamar.
O projeto pretende aproveitar e levar mais longe a vasta experiência adquirida ao longo de três décadas, no concelho, nesta área do recrutamento inclusivo. Mas sem perder o acompanhamento de proximidade, a excelência técnica e a atenção individualizada a cada situação, que o trabalho com este público exige.
Porque, como lembra Rosa Neto, “só com experiências bem-sucedidas e dando confiança aos empresários, será possível mudarmos a cultura”.